domingo, setembro 02, 2012

Jovem de oitenta anos e seu trágico fim

Era uma jovem senhora de oitenta anos. Tinha tanta historia para contar … se soubesse falar. Mas ela não falava. Não sabia. Contava sua história em suas rugas, em seu tamanho. Deixava a cargo de outros o narrar. E uma coisa ela fazia bem – estava sempre lá, para todos nós. Calma, imponente, frondosa. Como uma mãe que olha por seus filhos com sabedoria. Quantas vezes a ignoramos. Quantas vezes pensamos que sempre estaria lá. Debaixo de sol e chuva, vento e neve.

Até que, um dia, vieram atrás dela. Foi numa terça-feira. Quando saí pra trabalhar ela ainda estava lá.
E, naquele dia, eles vieram. Sem dó nem piedade, a derrubaram. Ela não disse nada, não pediu ajuda. Não podia. Não sabia. Ficou calada … até sua morte.

Quando voltei para casa não mais a vi. Nem sinal. Idos eram seu tronco, seus galhos, suas folhas. Ela se foi. Para nunca mais voltar. Apenas o todo ainda ali. Apenas o toco ainda nos lembrava que ela existiu. Por oitenta anos ela existiu. E se foi sem avisar. Sem que eu pudesse sequer me despedir.

Quem era ela? Há oitenta anos, ela foi plantada pelo nosso vizinho, e por sua turminha da alfabetização, na frente da escolinha onde eles estudavam. Uma homenagem ao diretor que se aposentava. Por oitenta anos essa homenagem cresceu e nos deu sua sombra e proteção. ... Até o dia que pessoas inescrupulosas vieram para destrui-la. Sem pena. Sem dó. Sem sequer o direito de fazê-lo.

Debaixo de suas raizes, protegia um segredo, uma capsula do tempo. Capsula que nosso vizinho e seus colegas esperam ainda encontrar. E prestar-lhe enfim essa ultima honra. Ao menos a dignidade de ter o seu segredo, a ela confiado e mantido até a morte, resgatado.

 A mim, só me resta dizer, "Adeus".

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