domingo, agosto 26, 2012

montanhas-russas e alturas


Ok, então eu sou covarde, ok! Sim, eu tenho medo de altura, Droga! Eu admito!
Dean e eu adoramos encontrar novos lugares para ir para uma caminhada e dia desses seguimos os trilhos do trem até uma ponte.
Ele me pediu para andar pela ponte da trilha com ele. Eu disse que sim, claro! Mas, assim que eu olhei para baixo, eu comecei a hiperventilar. Ele já estava a meio para o outro lado, e lá estava eu​​, olhando para baixo, hiperventilando, petrificada.
Ele riu de mim.
Peraí ... Ele riu de mim?? NINGUÉM RI DE VIKA! ... Bem, exceto seu próprio marido.

Agora, espere um minuto, você pergunta, como é que um fã de montanha-russa tem medo de altura? Simples, muito simples, meu amigo - Medo me excita, desde que eu saiba que não pode me machucar. As pessoas não mergulham para a morte ao entrar numa montanha-russa. Exceto, é claro, no caso da garota no parque Hopi Hari, que foi ejetada de um assento defeituoso da Torre Eiffel. Mas, pense comigo, se há uma chance de um assento de um brinquedo estar defeituoso e matar, quanto maiores são as chances de que, ao andar em pontes de trilhos de trem abandonadas, há meio kilometro acima de um rio, você pise em falso numa parte com a peça faltando ou com madeira podre e caia para sua morte!

Sabe quando eles dizem nos filmes, "não olhe para baixo!" e alguém olha para baixo? E então ele cai e morre, não é mesmo? Bem, eu aposto um milhão de dólares que essa pessoa seria eu:
"Vika, não olhe para baixo!"
E, na minha lápide, se vai ler, "Suas últimas palavras foram 'O quê?'"

segunda-feira, agosto 20, 2012

Trilha Sonora da Vida

Você imagina sua vida com uma trilha sonora? Você tem uma música tema? Eu não posso imaginar minha vida sem música de fundo. E, para tudo o que faço, há uma música de fundo tocando na minha cabeça.

  Parece estranho? Como poderia ser diferente? Se você cresceu na mesma época que eu, e na mesma situação que eu estava, você vai entender isso.

Eu cresci em uma época onde as vidas de pessoas, reais e imaginados, eram contadas na TV todos os dias, o tempo todo, como séries, shows, novelas, filmes, vídeos musicais, comerciais e qualquer outra coisa que ​​coubesse na tela pequena de luz azul.

Eu também cresci em uma época em que podiamos levar a nossa música com a gente em todos os lugares que íamos. No carro, na bolsa, ligado a nossos corpos.

A todo lugar que eu vou, há música tocando. O shopping, a loja, o restaurante, a escola. A música sempre está ao fundo.

Como eu poderia ver a vida de outra maneira, senão com uma trilha sonora?

segunda-feira, agosto 13, 2012

Limpar o sangue

No Brasil a gente diz, ou pelo menos dizia, que queria que os filhos casassem bem para limpar o sangue.

Limpar o sangue! Limpar o sangue queria dizer casar com alguém da pele mais clarinha em vez de casar com alguém da pele escura. Era pra tirar a negritude do sangue. Embranquecer a família. Porca miséria! Como se isso fosse bom!!!! Limpar o sangue!

É. Limpar o sangue. Nessa de limpar o sangue, eu perdi a boa pele de índio da que minha vó ainda pegou da família da minha bisa. Eu ainda dei a sorte de ter carinha de menina. Mas a pele que não envelhece nunca, essa eu não peguei. Peguei a pele de branco mesmo. Vai ficar enrrugadinha quando ficar velhinha. Pobres dos meus filhos, pois eu casei com um mais branco que eu. Aliás, ele nem acha que eu sou branca! Me faça uma garapa! Pobres dos meus filhos...

Nessa de limpar o sangue, eu perdi o cabelo escuro de minha bisa até os 86 anos. Minha bisa. Pois é, aos 86 anos, minha bisa tinha um punhado de cabelos brancos, e a maior parte da cabeleira toda negra. Já eu, nessa de limpar o sangue, desde os 17 anos eu tenho esses fios de cabelo branco me atazanando o juízo!

Pois é. Limpar o sangue. Nessa de limpar o sangue, as coisas boas das etinias não-brancas foram-se esvaindo, esvaindo … e a única coisa que que a parte escura da minha herança me deixou foi essa nhaca de preto. Sabe aquele fedor que todo mundo que tem que entrar em ônibus lotado ao meio-dia em Salvador da Bahia conhece bem? Esse aí mesmo! Nessa de limpar o sangue só me sobraram duas sílabas: cêcê!

domingo, agosto 05, 2012

Medo

Nesses ultimos dias tenho acompanhado minhas plantinhas crescendo. Meu tomateiro e meu pé de pimentão deram flores. E eu pensando, puxa visa, nao sou uma total incompetente. Será que vou colher frutos em breve?
Mas ao mesmo tempo, quando paro pra pensar mais profundamente no assunto de plantar e colher, tenho medo.
Essa semana fui com meu marido a Plymouth, a cidade iniciada pelos peregrinos que fugiram da perseguição religiosa na Inglaterra.
Eles tem uma vila chamada Plimoth Plantation, que recria a vida em 1627. Cada familia tem sua casa, cada casa seu jardim. Eles platavam e comiam do fruto do seu trabalho. Nao existia luz eletrica, nem telefone, nem shopping center. Mas todos tinham o que comer, o que vestir, e com que se proteger do frio. Eles aportaram ali em 1620, numa terra deserta (pois o indios locais haviam sido dizimados por doenças), e em menos de 7 anos tinham uma vida auto-suficiente.
E nós? Dependemos tanto da fragil tecnologia que nos cerca. Que fariamos se a eletricidade de repente nos faltasse? Nós perdemos toda a habilidade de sobrevivencia que nossos antepassados tinham e dominavam tao bem.
Nossa vida é mais fragil hoje do que era nos idos de 1620? Temos curas para muitas doenças, controlamos melhor a natureza, mas nao por nossas proprias habilidades. Se a nossa adorada eletricidade nos faltar, que nos resta? estamos acostumados a uma vida de conforto, e esquecemos que a qualquer momento ela pode ruir. E se ruir, que nos resta?
E para que ir tao longe? para que voltar a 1620?
Minha bisavó certamente levava uma vida bem mais autosuficiente que eu. Minha bisavó certamente tinha muito mais conhecimento de como sobreviver do que eu. Como será que em tres geraçoes todo esse conhecimento, que era passado de pais para filhos se perdeu? Conhecimento de geraçoes ... se perdeu porque a teconologia atual o fez desnecessario. Mas a teconologia atual vive, literalmente por um fio. e se o fio se romper? qual despreparados estamos para sobreviver? Nao sabemos mais tratar animais para consumo proprio. nem plantar hortas de subsistencia - na escola aprendi que quem fazia isso era o caipira pobre. Nós gente da cidade grande praticamos a cultura de subsistencia no supermercado. sequer sabemos fazer nossas proprias roupas.
Tenho medo - medo de que tanto conhecimento precioso esteja perdido para sempre. E que um dia precisemos dele.
Como queria trazer de volta a tradiçao de passar tradiçoes e conhecimentos de pais para filhos.