quarta-feira, fevereiro 09, 2011

meu quintal

Um quintal, diz o texto de Danuza Leão. Um quintal é essencial para a infância, ela argumenta. Essencial a terra batida, o galinheiro de portinha quebrada, as árvores que sempre estiveram lá, para a criança aprender a pegar fruta do pé e ver o bichinho nojento dentro da fruta, ver e sentir o ovo quentinho que a galinha pôs. Ah, e o tanque pra lavar o pé que pisou em porcaria. Um quintal para ensinar à criança a vida, lições que nunca mais serão esquecidas.


Um quintal assim no fundo da casa eu nunca de tive. Criança de cidade grande, criada em apartamento, na era da babá eletrônica, meu espaço fora de casa era o playground – pra jogar bola, brincar pega-pega, esconde-esconde, e andar de bicicleta … em círculos.


Mas não tenha pena de mim. Eu tive sim um quintal. Um quintal imenso. Um quintal que, para mim, era do tamanho do mundo. Era maior que o mundo. Um quintal que fazia o tempo parar, pois por muitas eras nesse quintal eu não sabia contar semanas ou meses. Então cada parte do dia era uma semana, cada dia era um mês. Eu sentia como se nesse quintal eu passasse mais ou menos meio ano da minha vida, a outra metade eu passava em casa, indo pra escola.


Nesse quintal eu aprendi a correr em chão de terra batida, a brincar com minúsculas formas de vida, tipo formigas, girinos e grilos, aprendi a fechar a plantinha Melissa dizendo, “Melissa, teu pai morreu,” ou “Fecha a porta que lá vem o boi.” Nesse quintal eu entrei em galinheiros onde vi galinhas e ovos recém-postos, comi goiaba do pé sem cuidado algum até o dia que encontrei um bichinho nojento se movendo dentro dela, e trepei em cajueiro. Nesse quintal sujei as mãos de lama, lavei-as nas águas do lago, explorei terras em erosão e matas desconhecidas (pelo menos pra mim) como se fossem mundos diferentes de um reino que existia só nas cabeças minha e de meus companheiros de aventura. Nesse quintal eu conheci o medo de cobras e sapos, e, claro, fui vítima de implacáveis mosquitos por recusar passar o repelente. Mas o que é uma aventura no quintal sem picadas de mosquitos pra contar história? Nesse quintal eu deescobri que o céu de lá era muito, mas muito mais estrelado do que o céu da minha janela. Nesse quintal eu passei momentos inesquecíveis de minha infância, momentos de diversão e aprendizado ao mesmo tempo. Nesse quintal eu cresci, fui adolescente cheia de sonhos, conheci minhas melhores amigas – amigas que estão na minha vida até hoje, junto com todas as lembranças – nesse quintal eu conheci e me aproximei de meu salvador.


Esse quintal do tamanho do mundo, aonde meu coração vai sempre que paro para recordar momentos de minha vida em que realmente fui feliz, se chama Acampamento Jovens da Verdade da Bahia. Se algum dia voltarei a ver o meu quintal, não sei. Como tudo passa e tudo muda, ele mudou e seu tempo passou. Mas o tesouro que deixou comigo nunca nada nem ninguém vai tirar de mim – meu quintal.

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