quinta-feira, junho 28, 2018

Dever Cívico

Mesmo antes de ter filhos, sabia que gostaria que meus filhos aprendessem certas coisas à moda antiga, antes de os computadores fazerem parte de nossas vidas diárias e fazerem quase tudo por nós.
Eu queria que meus filhos aprendessem as coisas do jeito que eu aprendi e usassem a tecnologia moderna como uma maneira de tornar essas coisas mais fáceis. Enquanto assisto à minha primeira Copa do Mundo como mãe, não posso deixar de pensar nas muitas lições que elas poderão aprender com isso, como eu aprendi. Até uma das coisas mais importantes para mim - ser brasileiro.

Eu cresci brasileira, no Brasil. Como você provavelmente pode imaginar, isso significa que eu cresci sentando na frente da TV com minha família e amigos a cada 4 anos e torcendo pelo Brasil. Mas mais que isso! Isso significa que muito da minha vida durante esses dias foi povoada por imagens, adereços e temas da Copa do Mundo. O que significa que muito do meu aprendizado foi feito com imagens, adereços e temas da Copa do Mundo.

Geografia, por exemplo. Eu aprendi nomes de países e bandeiras graças às pequenas bandeiras de plástico que a Nestlé colocou dentro de suas latas de leite em pó (item muito popular nos lares brasileiros). Lembro-me de estar sentada à mesa da cozinha depois que minha avó chegou em casa do mercado e procurar a nova bandeira com o nome do país nela. A da Inglaterra é a que eu ainda posso ver em minha mente.

Quando eu tinha 10 anos, aprendi que Roma era a capital da Itália e que o país tinha a forma de uma bota, e a ilha da Sicília era a bola de futebol da bota Itália.

Ah e matemática. Eu aprendi um pouco de lógica e probabilidade aos 10 anos de idade para entender a tabela da Copa do Mundo. Sentada em frente a uma tabela vazia na mesa da sala de jantar, tive que descobrir como preencher as rodadas das oitavas de final, quartas de final, semi-Final e Final. O que aconteceria se dois times ficassem empatados em pontos? Eu tive que descobrir essas coisas para preencher a tabela com probabilidades.

Eu também aprendi sobre plastificação. ... Bem, sim, minha tabela de jogos da Copa do Mundo era muito preciosa. Dobrando e redobrando estava danificando o papel e eu não podia deixar isso acontecer, poderia? Eu laminei a coisa toda com durex apenas para aprender que poderia comprar um certo papel adesivo transparente na papelaria… Vivendo e aprendendo.
Então EMC ... Eu aprendi a cantar o hino nacional, e aprendi o que significava cada cor e símbolo em nossa bandeira, eu aprendi quais eram os lugares mais setentrionais e meridionais do Brasil, aprendi que nos anos 60, quando o Brasil e Pelé encantaram o mundo, nós tínhamos uma população de 90 milhões. Tudo isso graças aos jingles da Copa do Mundo. E ser patriota significava sentar juntos na frente da TV, vestido de verde e amarelo, agitando a bandeira, torcendo e soltando fogos de artifício a cada gol que marcamos. (Sim, Nós. A Seleção e nós, o 12º jogador)

E claro, amor. Aprendi muito bem a bandeira e as cores da Argentina, pois foi ela que partiu meu coração pela primeira vez.

Algumas lições de linguagem também. Novo vocabulário, como rivalidade. Estilo de escrita, como ironia. Ainda me lembro de minhas lágrimas caindo no lençol listrado branco e azul, as mesmas cores da equipe que acabara de destruir meu sonho aos 10 anos de idade.

Hoje nem a Copa do Mundo nem a Seleção Brasileira têm o efeito mágico em mim que um dia tiveram. Por quê? Ah, talvez porque desde 1998 eu parei de acreditar que a Copa do Mundo fosse um torneio sincero em que as equipes jogam futebol para mostrar quem é o melhor, e comecei a se perguntar se é só um espetáculo para cumprir acordos político-comerciais feitos a portas fechadas .

Hoje a magia se foi. Meu coração não bate mais rápido quando a bola rola para dentro da área, minha mente não é tomada pelo futebol a cada minuto do ano da Copa do Mundo, eu não vou para a cama e sonho que estou segurando a taça. Não mais. Eu sei ... é triste.

Mas de alguma forma ainda me vejo ligando a TV na hora do jogo. É hora de juntar família e amigos. Mais que isso. É um dever cívico. De alguma forma, parece meu dever cívico sentar-se diante da TV para cada partida do Brasil com familiares e amigos, pipoca, pão de queijo e refrigerante. E espero que minhas filhas aprendam isso também.

Então vai, Brasil! Rumo o Hexa!

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